Este trabalho nasce das minhas memórias de infância no sítio dos meus avós, onde eu e minha irmã brincávamos nas matas ao redor da casa. A singela lembrança de uma brincadeira de criança se funde à criação de uma realidade fantástica. Animais como formigas, galinhas, pássaros e um tatu-peba coexistem ao redor de uma grande jabuticabeira, figura central na obra, que é envolta por um céu vibrante. A camada de terra, onde se espalham as raízes dessa árvore, é composta por uma pintura feita com barro, sobre a qual se sobrepõe uma arquitetura formada pelos ossos de meus hipotéticos ancestrais e de outros animais. Todos os elementos referem-se à Fazenda Santa Terezinha, nome dado ao local antes da chegada dos meus avós.

 

A imagem é construída sobre uma colcha antiga e desbotada, e integra-se à estampa pré-existente, realçada, por sua vez, com bordados e miçangas. O desgaste da colcha reflete o apagamento da memória que se dá com o tempo, enquanto os bordados recém-feitos buscam trazer nova vida a essas lembranças quase esquecidas. Assim como uma criança, a obra se situa entre o lembrar, o imaginar e o inventar.